segunda-feira, 26 de março de 2012

As Mocinha de Ontem

Eu ensaiava os passos da adolescência quando ouvia duas moças que botavam os pés na incomoda maturidade conversando sobre o que iam ver, ou viram, no cinema Olimpia. Falavam de Rebeca, “a mulher inesquecível”, de romances que para elas traduziam em imagens o que liam na Coleção Azul capitaneada por M.Delly e Max Du Veuzit ou ainda ouviam na voz de Orlando Silva. Eram minha dindinha Odete e a vizinha Elyta. Ambas viveram na virgindade sem abraçarem noviciado ou serem evitadas pelos mancebos românticos por culpa de baixos pendores físicos. Simplesmente escaparam dos galanteios e engavetaram o sexo.
Odete teve namorado. Não sei como o namoro terminou. Em minha casa havia um rigor estranho, não era puritanismo por parte de minha mãe, mas uma notória dependência de parente/amiga que lhe ajudasse nos pequenos afazeres domésticos. Foi-se aos 70 quando ainda parecia ter forças para manter uma rotina que não respeitava idade.
Elyta eu pouco via. Não sei se quis imitar alguma heroína das telas ou páginas. Envelheceu na companhia de seus próximos. Morreu recentemente,arranhando o centenário.
Essas figuras do passado ficaram em minha memória como silhuetas de um período em que Belém tinha ruas calçadas por paralelepípedos, trilhos de bonde e consequente calma. Tanta que ladrão era de coradouro e se podia andar nas ruas nem sempre bem iluminadas quando o sol já estava preparando a luminosidade do dia.
Não sinto saudade deste passado. Ainda bem. Procuro cultuar o presente antes que eu, sim, me passe. Mas a partida de figuras da infância gera a noção do tempo na carne e nos ossos.

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