quinta-feira, 8 de março de 2012

Programação Indecifrável

Quando eu dirigi, ou melhor, levei nas costas, o Cine Clube APCC, fui exibidor. Contatava as distribuidoras de filmes, sejam as sedes nacionais no Rio ou S.Paulo, seja filial de Recife. Fazia borderôs, cumpria esquemas determinados pelas entidades protetoras do cinema nacional e até embarcava na galera da censura (uma peste dos anos de chumbo). Por ter aprendido as manhas dessa especialidade cinematográfica desconfio do que se passa hoje quando se tira de cartaz filme que está faturando bem e se privilegia merdas que estão recebendo o devido troco da platéia.
Não entendi como se tirou das salas dos dois principais shopping de Belém o filme “A Invenção de Hugo Cabret”. Minha filha foi tentar ver a cópia anunciada numa sala da rede Cinépolis e correu para o circuito concorrente porque a lotação estava esgotada. Na outra sala sentou-se nas últimas filas porque, também, a venda de ingresso extinguia-se. Com tudo isso o ótimo trabalho de Martin Scorsese pulou fora na semana seguinte. Pode ter caído de freqüência durante a semana, mas eu duvido que coisas como “Motoqueiro Fantasma 2” ou “A Mulher de Preto” não tenham, também, caído. E o oscarizado do ano, “O Artista” deu sessões lotadas no seu primeiro fim de semana e na dobra (2ª. semana) perdeu um horário (isto se acrescentando o absurdo de ter estreado em um único cinema e só em horas noturnas). A noção que se herda é que os filmes premiados e elogiados pela critica, por mais que faturem alto, são mal vistos pela dobradinha distribuição-exibição. O “negocio” radicaliza-se: ganha tempo o espetáculo imbecil e imbecilizante na idéia de que o público que paga para ver cinema só deseja matar o tempo com espetáculos vazios, filmes que não peçam ação dos neurônios, obras que não toquem mente ou coração e simplesmente sejam....obras.
Ainda bem que os tempos modernos deram aos cinéfilos o balsamo do DVD com a vantagem de “baixar”(download) filmes preteridos pelos comerciantes (ou mercadores) do ramo. Um “A Better Life”,por exemplo, ainda nem aportou no Brasil. E o ator desse filme chegou a ser candidato a Oscar. Se bem que Oscar para o exibidor local é apenas uma estatueta dourada para fimes-cabeça. E nem cabe dizer aqui o fato de que esse tipo de “cabeça”é também oca. Mas, seja como for, é meio de propaganda do “menos ruim”.
É por isso que estou no rol dos preguiçosos, pouco saindo de casa. Tenho meu cineminha televisivo onde vejo gravações impróprias para menores mentais. Como espero não acabar no clube daquela gente de “Wall E”, os balofos do dolce-far-niente (mesmo porque permaneço magro), cansados de fazer o nada em espaço exíguo. Insisto em ir a cinema e reclamar a programação de cinema. Pode ser que ainda desta vez água mole em pedra dura tanto bata até que fure.

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