terça-feira, 13 de março de 2012

Cinema Para Dormir

Dois filmes que eu vi recentemente pecam pelo excesso: “Sempre Bela” e “Transeunte”. O primeiro é dirigido por Manoel de Oliveira, o mais idoso cineasta que se conhece (fará 102 anos em dezembro). Voltando-se aos personagens de “A Bela da Tarde” de Buñuel faz um trocadilho no titulo: “Belle Toujour”para “Belle de Jour”. Aqui, Severine, que foi Catherine Deneuve, é encontrada por Henri (Michel Piccoli) passeando solitária em Paris. Ele quer rever um romance que não chegou a se realizar. Acha que Severine(Bulle Ogier) prossegue na sua beleza e acha caminho para um reencontro não apenas de “alô”. Idéia interessante mas a narrativa é assim: Henri vê Severine no teatro, gasta uns dez minutos de filme para chegar a um bar, outros dez para ir ao hotel onde ela está hospedada, e os minutos restantes num papo com ela sobre um passado que não se firma como continuação da obra de Buñuel e Carriére(Jean Claude). Haja paciência!
Em “Transeunte” Erik Rocha filma o único ator andando pelas ruas do Rio até cansar. Não ele, um sessentão de boa saúde: o espectador. Abordando a chegada da velhice e a solidão que se avizinha de um homem solteiro, sozinho em casa, contando apenas com uma sobrinha que lhe aparece no aniversário para um bolo barato e uma vela. O tema já esteve em filmes marcantes, de “Umberto D” aos argentinos como “A Janela”(La Ventana)de Carlo Sorin. Aqui se intensifica o realismo com closes e câmera na mão (ou demasiadamente fixa). É bonito, mas cansa. Os dois filmes me convidaram ao sono. Agradeço-lhes. O de Manezinho Oliveira é muito chato. O de Rocha é intoxicado de imagens que se cortadas ganharia bastante.
Moral da história: em sessão caseira, de noite, ver cinema monótono é salutar. Dorme-se bem. Quem é viciado em fármacos sedativos cura o vicio. Quem não se cansa com cinema de autor prova o seu pendor de monge chinês.

Nenhum comentário:

Postar um comentário