terça-feira, 6 de março de 2012

Super-Herói Mirim

Quem pensa que é besteira esta “crônica”(chronicle) de Josh Trank(27 anos,primeiro filme para cinema) pode cair do cavalo. “Poder sem Limite”(Chronicle/EUA,2011) é uma observação aguda sobre o revanche do tímido, a consideração que ele exige quando se sente apto a exigir. É assim que age o adolescente Andrew(Dane DeHaan)quando junto a dois amigos,Matt(Alex Russel) e Steve(Michael B. Jordan) encontra dentro de um buraco um cristal que exala superpoderes a quem o toca. Andrew é o tímido do trio. Todos aprendem a voar e mexer com objetos & pessoas, mas é ele quem vai usar dessa força para se vingar de quem o maltrata.
O filme é escrito pelo diretor. Não é mais um marvelmovie: é uma espécie de quadrinho psicológico, bem estruturado como uma brincadeira infantil, jogando com efeitos especiais discretos, com uma produção econômica, e numa forma muito simples de abordar um tema.
Aqui não há nem a mocinha namorada do herói nem o vilão que deseja explodir o mundo. O universo dos garotos guinados a supermen é o mesmo de uma rotina classe média estadunidense. Há colégio, há colega invejoso ou simplesmente galhofeiro, há muito pouco da família de cada um. Interessa o que os moleques pensam e agem longe de tutelas. É como se o roteiro do filme fosse escrito por eles – ou por quem os entende (não à toa é um cineasta jovem que maneja o projeto).
O resultado espanta porque agrada a platéia do gênero “ação” como toca ao chato cinéfilo que quer ver água no deserto. Por sinal que um dos meninos lê Shopenhauer, cita a caverna de Platão, manja de mais filósofos nas brincadeiras com os outros. Esse espasmo cultural pinta o tipo. E a ação engendrada por ele cabe num clichê do realismo tido como pessimismo (por quem interpreta apressadamente Shopenhauer) ou a bandeira que o novo herói de gibi vai usar quando resolve acabar com tudo e todos que lhe atormentam.
É uma rara brincadeira inteligente. Eu quase perdia, pois ando arisco para com bobagens do cinema comercial amontoadas depois da descoberta de CGI e outras mágicas da tecnologia que introduzem a fantasia em qualquer buraco. Ganhei assistindo apesar da sala em que estive só faltar cair neve. Os compressores despejam um ar frio exagerado que os diretores das salas exibidoras acham um quesito de conforto. Cheguei a pedir aos meninos heróis da tela que interferissem...

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