quinta-feira, 8 de março de 2012

Brick Bradford

Quando eu era criança entusiasmava-me com os quadrinhos de Brick Bradford, Decorei o nome dos autores, William Ritt e Clarence Gray. No Gibi o nome do herói era Dick James por conta da rivalidade que existiu entre Roberto Marinho(de “O Globo”) e Adolfo Aizen (de “Suplemento Juvenil”,depois EBAL). Idéias como a porta de cristal com base no dito “o que entra por um lado sai pelo outro” e uma viagem a lua através dessa porta encontrando fugitivos da 2ª.Guerra me fascinavam. Em 1950, quando eu fui ao Rio pela primeira vez, soube que o seriado desse herói estava passando. Andei quilômetros para ver um episódio num pulgueiro chamado Pirajá (correto: pira já). Desconfiei da lua com a cara do cenário de faroeste da Columbia. E todo mundo passeando por lá como se existisse ar respirável e gravidade igual a nossa. Mas era a maravilha do Bradford na tela. E pulei de alegria quando a série foi anunciada para as vesperais de sábado de tardinha no Olímpia.
Nunca pensei que eu fosse,um dia, rever o filme. A produção era de Sam Katzman, o rei das C-Pictures e a direção da dupla “pau pra toda obra” Spencer Bennett e Thomas Carr. Pois comprei dois DVDs dessa modestíssima produção. E minha memória quase pula das circunvoluções cerebrais. Que droga ô meu! Como eu fui gostar “daquilo”?
Mas não acabei triste. Percebi que nos 15 episódios estava a alma do cinema mendigo, da expressão mais simples de narrar com imagens.
Há dezenas de seqüências iguais, com bandidos pegando carro perseguidos pelo herói, derrubando este e sendo derrubados em seguida. Tudo com roupa de passeio. Aliás, Brick e Sandy, os donos da festa, estão sempre de “manga de camisa”. E não tiram a roupa durante toda a série, denunciando a precariedade do vestuário da Columbia. Nesta pobreza geral salta a ingenuidade que derrete as idéias dos quadrinhistas. Começa com a porta de cristal que mal se vê. E tem o “pião do tempo” que só aparece de frente em animação e só viaja para uma selva que envergonharia Johny Weissmuller(estaria mais para a franquia de Bomba(Johnny Sheffield, ator que fazia o “Boy” do Tarzan na MGM/RKO, realmente uma bomba).
Hoje se faz cinema de mendigo com aparato em que vale até CGI. É luxo dizer que um Quentin Tarantino faz cinema B. quando,na verdade, o pessoal que filma agora cresceu vendo o que Sam Katzman produzia aos quilos e quer imitar de longe. Ali estava a privada de Hollywood.Nos novos bês está um simples lavabo. E o que me pareceu curioso na revisão de “Brick Bradford” foi o fato dos atores parecerem estar se divertindo. Kane Richmon e Rick Vallin riem adoidados. E a mocinha, Linda Leighton(eu pensava que ela se chamava Linda Johnson) é feia pacas. E não ri. Como o “dr Timak”, cientista padrão dos comics, mostra-se obeso e sem graça na pele do ator John Merton. Valeu, portanto, situar minhas lembranças exclusivamente na história do cinema, no que se fazia para a garotada consumir chupando bombons (não existia a mania de pipoca).
Os quadrinhos de Ritt e Gray ainda hoje me impressionam. Em 1935 eles publicaram a história de uma viagem ao interior de uma moeda, ou seja, de um átomo de cobre. Os elétrons eram planetas e o núcleo o sol. Nesse tempo seguia-se o modelo atomico de Rutherford. E a imaginação dos artistas via universos nani . Pena é que o cinema atual, de grandes recursos, prefira as historias recentes em que a ação sai por baixo da imaginação. Não era assim com Brick Bradford. Nem era assim no seriado nanico de 1948.

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