sexta-feira, 3 de maio de 2013

Liberdade de Expressão

No Dia Mundial de Liberdade de Imprensa lembro-me das cenas cômicas que vi durante o governo militar (1964-1985). Naquele tempo eu dirigia um cineclube e era obrigado a levar a programação deste cineclube ao escritório da censura que ficava na sede da Policia Federal. Uma vez o censor que sempre me atendia apresentou-me a um colega que havia feito um curso de cinema e teatro em Brasília. O cavalheiro foi dizendo que aprendeu tudo em 30 dias.E acrescentou: “-Estudei tudo sobre aquele tal de Hamlet”. E eu remendei: “Shakespeare”. E ele: “Esse cara mesmo”. Outro, no caso uma senhora, explicou o corte de um filme porque o personagem posando nu para um quadro “se mexia”. Estava escrito no certificado de censura que o nu só era permitido estático. E assim mesmo sem “as partes pudendas” explicitamente à mostra. E as sessões do cineclube recebiam agentes da censura disfarçados em espectadores comuns. Uma vez anunciamos apenas um debate, sem projeção. A sala estava vazia quando surgiram dois homens. O amigo Roberto Lobato da Costa que sempre prestigiava sessões semelhantes interrogou o que eles estavam fazendo ali. “-Viemos ver o filme” disseram em coro. E o Lobato: “-Pois não vai ter filme, boa noite”. E os caras saíram acabrunhados. Era pandego o texto de um certificado de censura de filme. “Macunaíma” foi recordista. Uma lauda de cortes. Um deles implicava com a blusa da atriz que tinha escrito “Aliança Para o Progresso”, o plano norte-americano que se dizia de autoajuda mas na verdade era de espionagem. Vivíamos na castidade imposta pelos donos do poder. Quando foi liberado “O Último Tango em Paris” a gente sabia que ia ver o trailer. De fato, surgiu um filme curto. Anos mais tarde vi o original e fiquei impressionado como os pudicos revisores de opinião andaram cortando sequencias como quem monta um quebra-cabeça. Tudo em nome do que diziam “moral e bons costumes”. Há muita anedota macabra em torno desse tema. Reaver esse tesouro de imbecilidades é uma tarefa para faquir. De minha parte esqueci a maioria. Os neurônios fazem a vez de censores estéticos.

Um comentário:

  1. Ola Dr. Pedro outra lenda que correr sobre a censura nos tempos da ditadura é sobre um dramartugo grego da Idada Antiga, que ao ter sua peça adaptada, pr um grupo teatral, teve o seguinte questionamento quem escreveu essa peça, quero o endereço dele

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