quinta-feira, 16 de maio de 2013

Permanente Suspeita

Joseph Stefano escreveu o roteiro de “Psicose”(Psycho) o filme de Hitchcock. Na ocasião ele pediu, e Hitch atendeu que as pessoas não contassem o fim do filme. As sessões de “Psicose” chegaram a ser moduladas, até aqui em Belém, com entrada no salão de projeção só quando vazio (e antes era permitido se entrar no meio da projeção). Este roteirista aplicou a mesma sentença em “Tortura da Suspeita”(The Naked Edge/UK, 1961) que ele escreveu para Michael Anderson dirigir com base em um livro de Max Ehrlich. O filme está agora em DVD e há muito que ver nos 100 minutos que dura na tela (grande ou pequena). É a despedida de Gary Cooper. Já doente (ele morreu no final de 1961 de câncer no estômago), interpreta o executivo norte-americano George Radcliff, residente em Londres, casado com a socialite Martha(Deborah Kerr) e desejoso de expandir seus negócios comprando uma área da zona portuária. George é testemunha de um crime. Um dos donos da firma onde trabalha é assassinado e some um pacote com 60 mil libras. No júri o americano diz que viu o colega Donald Heath(Ray McAnnaly) correndo nas imediações da sala onde se deu o crime. Essa afirmação leva Heath à cadeia. Mas fica a dúvida. E o fato de logo surgir recurso para realizar a ideia de George leva a suspeita de que ele é o criminoso. Martha começa a investigar por conta própria e chega a um impasse quando acha um antigo advogado que sabe das coisas. A narrativa é conduzida de forma a evidenciar a dúvida. E o modo como o personagem principal surge e sai de cena, reforçado por acordes de William Alwyn, conduz à suspeita e ao terror por parte da esposa investigadora. O espectador conscientiza que dificilmente se colocaria Gary Cooper como um vilão sanguinário. Mas se ele não é o culpado, quem é ? Há pistas para desviar a atenção, mas, como na maioria dos filmes do gênero suspense uma penúltima sequencia evidencia o quadro real dos acontecimentos. E de modo cruel, com perigo de vida para quem mexe com a coisa. O previsível não condena o filme. Mas é a direção de arte e o modo como Anderson conduz os elementos de linguagem que fazem a festa. Os planos exemplificam o que se chamou de “film noir”. As sombras caem sobre objetos, a profundidade de campo deixa que a suspeita ganhe corpo adentrando em cena, o enquadramento coloca as personagens em pontos estudados para compor um momento de angustia. São marcas de uma forma elaborada dentro do que se quer dizer mesmo que esse contudo seja vulnerável à uma pesquisa mais séria. “Tortura da Suspeita” deve ser revisto.

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