terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

Ainda La la land


                O primeiro plano de “La la land” traz a logomarca Cinemascope abrindo o quadro como se fazia quando a lente de Henri Chretién entrou na moda após o logotipo da 20 Century Fox(que comprou o invento francês). Com isso o diretor Damien Chazelle diz que seu filme tem a ver com o passado da indústria cinematográfica norte-americana. E passa a focalizar um numero musical a partir de um engarrafamento na ponte que leva a Los Angeles. Dali se apresenta o casal interpretado por Emma Stone e Ryan Goslin, ela pretendendo entrar para a Warner Bros, ele sonhando com um bar onde não só toca jazz em piano.
                A base da construção do filme passa pela conversa de Sebastian(Goslin) com um jovem de uma banda de jazz. Este reclama que o moço do piano só toca jazz antigo, que deve pensar nos jovens, no novo meio de expor o ritmo. Por aí passa o filme de Chazelle. A maior parte de sequencias é de musicais clássicos de Hollywood, inclusive a construção de imagens como na sequencia em que se dança sobre um cenário de céu azul a lembrar Astaire e Caron em “Papai Pernilongo”(Daddy Long Legs). Esta porfia pelo que fazia Stanley Donen, ou Vincente Minnelli, esbarra no realismo que os tempos modernos exigem para se “acordar da fantasia”.É assim que os amantes não encerram as suas deixas com um beijo à maneira de Kelly & Caron em “Sinfonia de Paris”(Na American in Paris). O que se vê é a mãe da família, casada com um estranho nesse ninho, assistindo ao velho amor no piano de bar de onde ele a vê e faz um gesto de quem sofre calado o desvio de seu romance. Para se chegar a esse “bad end” há uma profusão de planos dos namorados de ontem em seu auge de caricias (planos já vistos e lembrados em “machine gun cut”).Com este final, que fecha num aceno de despedida doloroso para os ex-amantes, o roteiro acrescenta que aquele cinema de musica e fantasia já ficou na memória de quem ainda via a tela cinemascope e não o panavision (a técnica que outros estúdios driblaram o monopólio).Só faltou fechar a cena em quadro menor e em preto e branco...
                Bem, “La la Land” me pareceu, numa revisão, um ensaio interessante sobre o cinema do passado, aquele das vesperais que alguns apelidavam de matinês. E com o cuidado de dizer que se cutucou memoria, até com musicas graváveis embora sem o charme de um Gershin ou Cole Porter .Não vejo como um “despertar” bem estruturado mereça tantos salamaleques como está recebendo. Mas reconheço que o que o jovem cineasta desejou ele conseguiu e esse desejo foi bastante criativo. Afinal, muitos que estão amando o filme de agora não viram os clássicos do passado. Penso até que essa influencia “genética”(os pais dos novos espectadores foram fãs de Kelly, Astaire. Cyd Charisse, Leslie Caron..._) seja um fato a considerar e quem sabe não passou pela cabeça do quase calouro (e certamente um admirador do cinema antigo) Damien. Só isto já basta para votar nele quando do Oscar. Muito mais a que o filme é candidato parece exagero.

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