O
primeiro plano de “La la land” traz a logomarca Cinemascope abrindo o quadro
como se fazia quando a lente de Henri Chretién entrou na moda após o logotipo
da 20 Century Fox(que comprou o invento francês). Com isso o diretor Damien
Chazelle diz que seu filme tem a ver com o passado da indústria cinematográfica
norte-americana. E passa a focalizar um numero musical a partir de um
engarrafamento na ponte que leva a Los Angeles. Dali se apresenta o casal
interpretado por Emma Stone e Ryan Goslin, ela pretendendo entrar para a Warner
Bros, ele sonhando com um bar onde não só toca jazz em piano.
A base
da construção do filme passa pela conversa de Sebastian(Goslin) com um jovem de
uma banda de jazz. Este reclama que o moço do piano só toca jazz antigo, que
deve pensar nos jovens, no novo meio de expor o ritmo. Por aí passa o filme de
Chazelle. A maior parte de sequencias é de musicais clássicos de Hollywood,
inclusive a construção de imagens como na sequencia em que se dança sobre um
cenário de céu azul a lembrar Astaire e Caron em “Papai Pernilongo”(Daddy Long
Legs). Esta porfia pelo que fazia Stanley Donen, ou Vincente Minnelli, esbarra
no realismo que os tempos modernos exigem para se “acordar da fantasia”.É assim
que os amantes não encerram as suas deixas com um beijo à maneira de Kelly
& Caron em “Sinfonia de Paris”(Na American in Paris). O que se vê é a mãe
da família, casada com um estranho nesse ninho, assistindo ao velho amor no
piano de bar de onde ele a vê e faz um gesto de quem sofre calado o desvio de
seu romance. Para se chegar a esse “bad end” há uma profusão de planos dos
namorados de ontem em seu auge de caricias (planos já vistos e lembrados em “machine
gun cut”).Com este final, que fecha num aceno de despedida doloroso para os
ex-amantes, o roteiro acrescenta que aquele cinema de musica e fantasia já
ficou na memória de quem ainda via a tela cinemascope e não o panavision (a técnica
que outros estúdios driblaram o monopólio).Só faltou fechar a cena em quadro
menor e em preto e branco...
Bem, “La
la Land” me pareceu, numa revisão, um ensaio interessante sobre o cinema do
passado, aquele das vesperais que alguns apelidavam de matinês. E com o cuidado
de dizer que se cutucou memoria, até com musicas graváveis embora sem o charme
de um Gershin ou Cole Porter .Não vejo como um “despertar” bem estruturado
mereça tantos salamaleques como está recebendo. Mas reconheço que o que o jovem
cineasta desejou ele conseguiu e esse desejo foi bastante criativo. Afinal, muitos
que estão amando o filme de agora não viram os clássicos do passado. Penso até
que essa influencia “genética”(os pais dos novos espectadores foram fãs de
Kelly, Astaire. Cyd Charisse, Leslie Caron..._) seja um fato a considerar e
quem sabe não passou pela cabeça do quase calouro (e certamente um admirador do
cinema antigo) Damien. Só isto já basta para votar nele quando do Oscar. Muito mais
a que o filme é candidato parece exagero.
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