quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

HORAS INTERMINÁVEIS

Com “172 Horas” Danny Boye põe o dedo na ferida dos espectadores mais sensíveis. Um jovem alpinista (James Franco, excelente) cai nua fenda quando corta o deserto de Utah e, por azar, o seu braço fica preso em uma pedra gigantesca, irremovível manualmente. Ele passa as horas do titulo, ou seja, 5 dias, bebendo o que tinha e mais água da chuva, mijando quando pode livrar as calças(não se sabe como defecou, se é que o fez), comendo barra de chocolate e curtindo uma dor terrível no braço que vai gangrenando e que ele sabe da necessidade de cortá-lo com um pequeno canivete (a faca maior ficou em casa).
Na cena do corte do braço muita gente vai olhar para o lado. Realismo em tom maior num filme-situação que deixa longe o impressionante “Enterrado Vivo”.
Curioso: Boyle ganhou o Oscar pelo alegre “Quem Quer Ser um Milionário”. Desta vez ele tenta de novo (e não creio que consiga) em um filme duro. Mas superlativo. De aplaudir de pé.
E Sofia Coppola com o seu “Um Lugar Qualquer” não disse a que veio. Focaliza um ator americano e sua filha, viajando para promover seu último filme. Quase no fim a filha chora e explica o motivo: a mãe vai viajar e o pai só vive viajando. Ele telefona para a mulher mas ela recebe a sua voz com desdém. A vida não imita a arte e quem sofre são os atores secundários (no caso os filhos). A consciência disso passa rápido em hora e meia de imagens sem destino, ora ginastas femininas se exibindo, ora o galã cochilando, ora sendo ovacionado por gente que vive de cinema.
O filme é especialmente chato. Muito chato. Mais divertido é “Um Dia Qualquer”.
Bom é o que fez o pai de Sofia, o velho Francis Ford, com “Tetro”, filme que ele fez em preto e banco, na Argentina, há dois anos. Irmão mais novo encontra o mais velho que vive recluso (é um escritor de talento) e que no fim das contas vem a saber que não é seu irmão e sim seu pai. O imbróglio familiar passa na sombra neo-realista. Todos convencem e o roteiro não morre de amores por genialidades. Um filme simples e sensível. Drible no melodrama.
E “Cisne Negro” não é nenhum “Sapatinhos Vermelhos” de Powell & Pressburger. É mais um “Fatalidade”,aquele filme em que Ronald Colman (Oscar pelo papel) encarna Otelo e tal forma que mata a sua Desdemona. Aqui Natalie Portman mata a si mesma na imagem de uma rival no balé de Tchaikovsky. Ela está em quase todos os planos e merece Oscar (se Oscar foi premio de merecimentos). O roteiro é confuso no seu freudianismo, diluindo o erótico num devaneio de megalomania. Direção do formal Darren Aronovsky.

Nenhum comentário:

Postar um comentário