quarta-feira, 25 de maio de 2011

Henrique V

Passou no canal de TV por assinatura TCM o filme “Henrique V”(Henry V) de Laurence Olivier feito na Inglaterra em 1945 quando ainda não havia chegado o 8 de maio, ou seja, quando ainda se ouviam bombas alemães nos arredores de Londres.
O filme é histórico não só por se tratar de uma transposição elegante (quase um compacto da peça teatral) do original shakespeariano. Aqui em Belém, por volta de 1948, deu o que falar. Um gaiato jogou um objeto na tela do Olímpia em protesto pela “chatura” de um épico que ele pensava ser semelhante aos que Errrol Flynn interpretava em Hollywood. Mais tarde o filme, assim como o logo depois exibido “O Boulevard do Crime”(Les Enfants Du Paradis/1944/46) deu polêmica em jornal com artigos escritos por Cauby Cruz, sob pseudônimo de Andrelina, detratando a obra,e Benedito Nunes com Orlando Costa, revidando com veemência. Eu acompanhei a série de textos que exibiam humor inteligente. Quando escrevi “A Critica de Cinema em Belém” botei esses textos no livro.
Mas o caso dramático de “Henrique V” no cinema aconteceu em Los Angeles quando Laurence Olivier já idoso, que tinha ido filmar “Maratona da Morte”, soube que numa dessas “salas de cinema de arte” estava sendo exibido o seu filme e desejou revê-lo. Foi comprar ingresso como qualquer pessoa e o dono da casa o conheceu e convidou-o a entrar. Olivier agradeceu, mas depois se arrependeu. A cópia estava com as cores desbotadas, muito riscada, e o projecionista pulava o começo das partes quando trocava essas partes. O grande ator-diretor, o maior nome do teatro inglês, escreveu magoado sobre a “vulnerabilidade do cinema”. Ele estimou como um trabalho de equipe, caro e custoso, com a participação de intelectuais que conheciam a obra de Shakespeare, foi acabar nas mãos de um operário qualificado em mecânica, um técnico que só sabia colocar rolos de película em projetores, ajustar as lentes (foco) e atentar para as mudanças de partes que podiam ser até de 10 vezes (na época se trabalhava com partes duplas, ou seja:um rolo com duas partes e este rolo era mudado sem se interromper a projeção).
Realmente o cinema é vulnerável. Diz-se que no Brasil, por exemplo, todo mundo que quer estudar cinema quer ser diretor. Ninguém pensa em preservação de filmes. Não sabe nada da química usada na revelação, copiagem e muito menos remasterização de películas. Por isso muito se perde. E o que fica não possui as características de estréia.
É preciso trabalhar para imortalizar o cinema. A técnica moderna permite isso.
Infelizmente há um tesouro volumoso que resta esquecido. Só se cuida do que fez sucesso comercial ou ganhou prêmios. No bolo do esquecimento há muita coisa azedada.
“Henrique V” de 1945 é história sobre história que fez história.

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