terça-feira, 10 de maio de 2011

Julgamento em Nuremberg

No filme “A Grande Chantagem”(The Big Knife/EUA,1954) de Robert Aldrich com base numa peça de Cliffor Odets, cita-se o cineasta Stanley Kramer como um dos poucos que faz bons filmes em Hollywood. De fato Kramer foi uma revelação com o produtor, amparando jovens diretores que realizaram filme anômalos para a linha comercial.E quando passou a dirigir também usou de métodos pessoais mesmo quando adentrou pelos projetos caros.
“Julgamento em Nuremberg”(Judgment at Nuremberg/EUA,1961) é um exemplo do cinema corajoso que Kramer fazia. Baseado em fatos reais e seguindo um roteiro do autor do argumento, Abby Mann, e com a colaboração do ator Montgomery Clift,o filme reporta o julgamento real acontecido quando terminou a 2ª.Guerra Mundial e que colocou no banco dos réus as autoridades nazistas capturadas pelos soldados aliados.
Com um elenco de nomes famosos liderado por Spencer Tracy, que faz o juiz americano encarregado de presidir os trabalhos, é um drama denso, pousado em falas, que, mesmo assim, mesmo com unidade de lugar, consegue levar a platéia a um suspense de filme de ação. Começa porque a câmera não pára. Corre pelas filas de participantes, detêm-se em quem está na mesa de trabalhos, e nos poucos “flash-back” faz alusão ao começo e fim do período nazista. Nessa exploração de tipos os campos e contra-campos esmeram-se na estruturação de personas que se registram em indagações e respostas. Para isso há inúmeros closes explorando as reações das personagens. Momentos que exigem bastante de atores consagrados como o próprio Clift, co-roteirista e na época saindo de um acidente que lhe deformou o rosto e levou-o à uma crise emotiva, e ainda Judy Garland (em um de seus últimos papéis, ela também com problemas existenciais advindos de uso de drogas), Burt Lancaster, Maximilliam Schell como advogado de defesa(ganhou o Oscar de coadjuvante pelo papel),Richard Widmark, Marlene Dietrich,Edward Binns, Werner Kemplerer,Martin Brandt,William Schafner, e outros menos conhecidos do grande público.
Há alguns lapsos históricos como o que aconteceu a Rudolf Hess, condenado e morto na prisão e a generalização de se achar o julgamento no setor norte-americano como o único feito no imediato pós-guerra (Hess, por exemplo, foi condenado por um julgamento aliado de um modo geral não o que está no filme). Mas a obra de Abby e Kramer quer muito mais ser um alerta do que se fez e de como se deve evitar que se torne a fazer. Em 1961 despontava a guerra fria e havia sempre por parte do cinema americano a lembrança de que os russos estavam usando de atitudes próximas da repressão derrotada.
Spencer Tracy repete um tipo que brilhou noutro filme de Kramer: “O Vento Será Tua Herança”(Inherit the Wind/EUA,1960) ou sejam feito um ano antes. Ali ele julgava um professor condenado por ensinar a Teoria de Darwin numa escola do interior do sul dos EUA em 1920. Expressões se repetem, mas todas procedentes.

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