segunda-feira, 23 de julho de 2012

Nas Noites do Passado

Nos anos 50 a Metro gabava-se de ter tantas estrelas quanto as do firmamento. Eu tinha uma foto do almoço comemorativo dos 50 anos da empresa. Lá estavam quase todos os artistas que se conhecia. E o estúdio vendia caro o seu produto. Alguns filmes eram negociados a 60% da renda do cinema lançador. O “normal” era 50% (quando de outras firmas era 40% deixando os 50%para a produção nacional). E tinha quem pagasse. Para vencer o concorrente, a firma local Cardoso & Lopes(cinemas Moderno, Independência e Vitoria) não hesitava. A maior parte dos filmes era musical. Na época a gente não gostava. A critica não gostava. Mas hoje em dia busca esses títulos como valiosas peças históricas. A exceção eram os melodramas com caras conhecidas. E dois títulos ágora em DVD ilustram esse tempo: “Mundos Opostos” e “Na Noite do Passado”. Eu revi com atenção “Na Noite do Passado”. Não conheço o romance original de James Hilton mas o filme de Mervyn LeRoy me pareceu um modelo de seu gênero. Ronald Colman, em grande fase, é o ex-combatente da I Guerra que chega sem memória a um asilo inglês. Desejando sair dali de qualquer maneira, foge na hora em que se comemora o armistício (1918). Só não se perde na rua porque sensibiliza uma atriz de teatro(Greer Garson) que vai lhe dar abrigo e gradativamente se apaixonar por ele. Passa o tempo, ele casa, tem um filho, mas quando vai atender a um convite de um editor em Liverpool, sabendo que tinha vocação para escritor,é atropelado. E volta a antiga memória apagando a atual. Com isso sabe que é um homem rico, herdeiro de uma indústria bem sucedida. Correm os anos e a esposa da breve época de amnésico surge como sua assistente. Ela quer que ele se lembre do que foi e reluta uma paixão que (re)nasce. Bem, o filme não deixa fôlego. Por mais que se saiba que tudo vai terminar “bem”, este fim é esperado como o resultado de um jogo. A narrativa clássica e os atores brilhantes sabem envolver com a trama novelesca. Pensei em como a gente saia do cinema de paz com a vida. O cinema era um escape para um paraíso mental. E não se diga que era fácil fazê-lo. Havia todo um processo de narrativa que empregava os artifícios de estúdio como locações reais. LeRoy era mestre nesse jogo de mentiras, certamente supervisionado por Irving Thalberg ou outro gerente do velho Mayer, o leão da marca. Quem hoje estuda cinema deve conhecer esses filmes do passado que agora se tornam acessíveis graças ao DVD. É a linguagem direta ou o modo mais simples de se contar historia. Ingenuidade, certo, que se perdeu com o tempo mas se ganha (e muito) em achá-la.

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