terça-feira, 10 de julho de 2012

Na Teia da Aranha

Não se surpreendam se em um novo filme da série “Superman” vai se ver, de novo, o pai biológico do super-herói colocando-o no foguetinho que o levará à Terra. E se no filme de Richard Donner (1978) tinha Marlon Brando faturando um milha por seu cidadão de Krypton agora apareça Michael Fassbender como Jor-El, o cara. E quem substituirá Glenn Ford de pai adotivo ? Por ora não se fala nisso. Os heróis da DC Comics estão em baixa comparados com os da Marvel (que virou produtora de blockbuster). Mas a moda é mesmo marcha a ré. “O Espetacular Homem Aranha(The Amazing Spider Man) , gabola até no nome, vai às raízes da história bolada por Stan Lee e apresenta (de novo) Peter Parker garoto, incomodado com o sumiço paterno. Também vai ao laboratório onde o rapaz é infectado pelo DNA (?) de uma aranha. Tudo o que se viu há exatos 10 anos. Falta de assunto ? Certo. Ou será que a Columbia/Sony crê na amnésia dos que vão a cinema ? O novo filme troca Sam Raimi(diretor) por Mark Webb e Tobby Maguire(ator)por Andrew Garfield. Não interessa. Só saudosismo reclama. O que os produtores querem é que a macacada se divirta na montanha russa de CGI onde o herói, que as revistas chamam de “aracnídeo” e eu tenho vontade de rasgá-las ao ler esse nome, pule por cima de prédios, derrube carros, infernize tráfego como se morasse em Belém, e, principalmente, faça com que o público deixe de pensar. Relax. A formula é curtir o herói pulador e seu vilão lagarto em uma luta que a prefeitura de Nova York pediria penico se fosse verdadeira. Quem afina no clube dos exigentes, aqueles que não dormem vendo Godard, vai achar “Homem Aranha” uma afronta à arte cinematográfica. Mas não pode dizer que se dorme durante a projeção. Mesmo porque o barulho é grande. Eu preferi ver o filme em 2D. Perdi o susto que dá o entulho que os personagens atiram para frente da objetiva. Mas esse entulho cabe no lixão da cinematografia. Difícil ver um catador de lixo depois da sessão. Passou, passou. A ilusão das imagens em movimento é substanciosa na medida em que essas imagens mexam com algum resquício de intelecto. Pensar em filmes como “Homem Aranha” é levar a sério a embriologia citada pelos doutores de araque. Sei lá, mas a gente tem saudades é de cientistas malucos como o Dr. Silvana, aquele que infernizava a vida do Capitão Marvel. Pelo menos não se embromava na mentirinha. BORGNINE Meu vizinho Dionorte Drummond Nogueira dizia que “´é triste o crepúsculo dos deuses”. Não se referia ao filme de Billy Wilder, mas ao fim de artistas de cinema. Vi no “Homem Aranha 4” Sally Field fazendo titia querida de Peter Parker. E Martin Sheen titio. Mas se esses atores premiados aceitam subpapéis por necessitarem de grana, pior é saber dos que se vão para sempre. Morreu agora Ernst Borgnine. Lembro do filme que lhe deu o Oscar: “Marty” de Paddy Chayefesky & Delbert Mann, e a produtora Hetch-Hill-Lancaster. Sim, Burt Lancaster era um dos produtores. Ernst, enfim em papel estelar, era o solteirão convicto que mãe italiana queria que arranjasse mulher. Um dia ele resolve procurar. E acha Bety Blair. Vai à uma festa com ela. Dois tímidos soltos num salão. Convincentes a ponto de comover. Um belo filme pequeno felizmente reconhecido pelos grandes da indústria. Borgnine fez mais de 200 filmes. Invariavelmente era de engrossar elenco. Mas competente a ponto de convencer como naufrago do Poseidon. Trabalhou até o fim. Tem filme com ele neste 2012. Somava 95. E podia ir além. Mas o espetáculo sempre termina. E o seu “the end” volta a dizer que cinema, apesar de ilusão, é um modo de se vencer a morte projetando a vida. Os filmes de Ernst estão por aí, com ele mais novo ou mais velho.

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