sábado, 10 de outubro de 2015

Na Corda Bamba

               Apesar de tratado em primeira pessoa, com o personagem Philippe Petit narrando a sua odisseia de equilibrista do alto da Estatua da Liberdade, o filme “A Travessia”(The Walk) de Robert Zemeckis com roteiro dele e de Christopher Browne (com base no livro de Petit “To Reach the Clouds”) não diz quem é este francês que sonhou e realizou uma perigosa travessia das finadas Torres Gêmeas de Nova York usando um arame.
               O filme mostra o relacionamento dele com uma artista de rua, Annie. Ela teria seguido com ele para Nova York quando quis montar a estrutura da travessia no World Trade Center. Depois volta para a França. Se houve um relacionamento intimo o filme não define muito bem. Nem vai longe na amizade de Petit com o fotografo Jean-Louis que também o acompanha nos EUA. Será que essas figuras existiram mesmo da forma como são mostradas?Sabe-se pelas biografias nanicas do personagem que hoje ele vive próximo a Woodstock com uma pessoa chamada Kathy O’Donell (não confundir com a finada Cathy O’Donell atriz de “Ben Hur”). Se o objetivo, seguindo o texto original, era definir apenas o equilibrista, não parece novo o enfoque que já esteve no cinema no documentário premiado com o Oscar justamente chamado “O Equilibrista”(Man on Wire/2008).
               Começando em preto em branco com Philippe criança em Paris, é muito rápida a viagem da câmera pela infância que só se focaliza pois já estampava o amor pelo perigo, a porfia pela corda bamba(sem ironia). O filme atual é como uma seta que encaminha tudo para a sequencia da travessia das torres em NY. Em 3D ela realmente ganha do trabalho anterior de James Marsh (o citado “O Equilibrista). Impressiona até pela edição que joga os planos de forma a incitar o suspense mesmo se sabendo que tudo correu bem para o personagem. Mas é só. Zemeckis bota  o espectador por duas horas na sala escura vendo hora e meia de papo furado. Sinceramente achei que que voltar a um assunto bem tratado antes foi desnecessário. Será que o diretor queria mostrar como a peripécia do francês ganha emoção nas imagens tridimensionais ?Pode ser. E Annie ? Será que ela existiu mesmo ou foi um recurso comercial para melhor vender o filme ?  O que salta para a excelência é o trabalho de Joseph Gordon Levitt (34 anos) antes apresentado em “Lincoln” e “A Origem”. Ele se equilibra bem como o francês (caprichando no sotaque para o inglês) que virou noticia mundial.

               E eu pergunto: de que vive hoje Petit ? Deve estar ganhando copyright de cinema. A celebre travessia não foi patrocinada por ninguém. Prova de que um ideal não tem preço. Uma atitude cada vez mais rara no mundo que economicamente vive na corda bamba.

3 comentários:

  1. Mestre Pedro,

    Fui assistir ao filme no sábado em uma dessas salas que nos disponibilizam poucas cópias legendadas (saudade do cinema 1,2 e 3).

    Penso um pouco diferente de você em alguns aspectos com relação a este longa de Robert Zemeckis.

    Concordo com você no que concerne o primeiro ato. Ele é fraco e, para piorar, mantêm o clichê da "paixão" a primeira vista oriunda de um desentendimento.

    Contudo, penso que o segundo e o terceiro ato do filme são bons para ótimo. Explico, o segundo ato é interessante por mostrar a construção do plano para adentrar o prédio e, consequentemente, viabilizar a travessia, parecendo, em certos momentos, um filme de assalto. Já o terceiro é fantástico pelo momento artístico. Sim, para mim, o terceiro ato é sobre a arte (o filme todo o é, mas o terceiro é a arte em estado quase pleno).

    Além disso, é preciso destacar o trabalho de Robert Zemeckis na direção. Os planos estabelecidos por ele, ora focando no pé, ora invertendo a câmera e nos fazendo sentir vertigem no cinema (aqui o chato 3-D é mais do que recomendável) são sensacionais e, apesar de sabermos o desfecho, fazem com que sintamos angustia da situação experimentada pelo artista.

    Abraços!

    Carlos Lira

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    1. A travessia em si esteve no excelente documentário vencedor do Oscar. Mas não desmereço o trabalho de Zemeckis, um diretor que admiro (basta citar Naufrago", um de meus filmes preferidos).. O que achei foi muito papo furado para encher um drama. E ainda assim reticente pois não diz como ficou a vida do equilibrista hoje residente em NY. Aliás ele podia ter colocado no plano da Estatua da Liberdade que ela foi presente francês. Petit conta, animado
      , a sua aventura. E o que ele esta fazendo ali, no monumento que sua terra legou ao seu novo ninho ?

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  2. Pedro,

    Essa narrativa de Petit na estátua é um questionamento procedente. Tenho minhas dúvidas de sua real necessidade.

    Carlos Lira

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