Os cineastas soviéticos eram, invariavelmente, funcionários do
Estado. Sergei Eisenstein,o mais evidente, terminou carreira desprezado de seu “emprego”
por sair de uma linha de propaganda estatal. Disseram até que seu “Ivan, O Terrivel”
era simpático ao tzarismo.
Hoje o
que se filma na Rússia é corajosamente critica. Mas o grosso da mostra que ora chega
à Belém é fruto da propaganda do que se chamou “ditadura do proletariado”. Vale desse tempo e espaço os ensaios
formais de Eisenstein. E eles se veem em “O Velho e o Novo” onde o autor de “Potemkim”
vislumbra o que se vendia como necessidade da revolução no campo. Os closes são
históricos. A montagem dá ritmo ao pouco de enredo. Pode-se dizer que o filme é
um ensaio de fotografia em preto e branco no meio em que o conjunto reflete a
gênese do cinema (“arte da imagem em movimento”).
Ainda
hoje espanta as caras sofridas que se vê no filme. Certo que nem todas refletem
a miséria objetivada. São gordinhos os tipos. Mas sabem deixar a feição da dor.
Um ensaio formal que ensina como se pode fazer cinema.
A
mostra vai aos novos títulos sem chegar a um patamar que hoje se viu em “Leviatã”.E
nem podia pois é veiculada por entidade oficial. No quadro lembro-me de um
amigo que não ceguei a conhecer pessoalmente: o Borgerth, dono da distribuidora
Cidef(SP) de quem alugava filme para o cineclube local nos anos 70. Ele tinha
de tudo da Mosfilm e enfrentava a ditadura veiculando seu tesouro. Eu cheguei à
ousadia de passar alguns desses filmes numa sala de base militar(o Cine Guajará
da Base Naval). As autoridades só pediam reserva para “Potemkim”. Mas os cinéfilos
da época aprenderam muito com as imagens de Pudovkin, e mesmo Kalatazov e
outros cineastas da fase sonora da cinematografia soviética.
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