“Numa Escola em Havana”(Conducta) segue as lições do neorrealismo
. Isto nunca foi demérito. Na Itália do pós-guerra, sem estúdios e com aparato técnico
sofrível, os cineastas iam às ruas, contratavam artistas amadores, e filmavam o
que lhes parecia a realidade. Foi assim que Lamberto Maggiorani(morto aos 73
anos em 1983) fez o operário a quem roubavam a bicicleta (a mim o ícone do
movimento deflagrado por Rosselini,
Visconti e o próprio De Sica, autor deste “Ladri di Biciclette”).
Para contar a historia de Chala, menino de 11 anos filho de
mãe drogada e aluno rebelde de uma escola onde uma velha mestra passa seus últimos
anos de profissão, o diretor-roteirista Ernesto Daranas usa um jovem que
espelha o que se pede, Armando V.Freire. O menino estreava em cinema. E comportava-se
como um veterano. Lembra o Enzo Staiola de De Sica, também estreante. A câmera exige
muito do garoto. Perseguindo-o pelas ruas de um bairro pobre não se contenta em
focaliza-lo em largos e médios planos. Há closes. E se sabe que nesse tipo de
tomada há um hiato, com a exigência de que o artista ria ou chora adiante da
objetiva. Não é mole.
E há uma senhora interprete, Alina Rordiguez, que faz a
mestra Carmella, protetora do menino. Por sinal que ela, uma enfartada no papel,
morreu este ano. Faz uma bonita despedida na idosa que lutava para antes de se aposentar
(ou “a aposentarem”) dar um rumo à vida de uma criança que fora da sala de aula
vendia pombos, via cachorros em luta numa rinha patrocinada pelo amante da
mãe(seu pai ?) e tentava namorar uma colega que também sofria problemas familiares.
O peso censório de governo não democrático podia ser
observado com a censura a uma imagem de santo colocada no mural da escola. Mas há
devotos na igreja local. O caso do “santinho” serve apenas para evocar o papel
de Carmella,que mesmo assim, mesmo recolocando a estampa no quadro quando uma
aluna (a namoradinha de Chala) havia tirado pensando em dar-lhe boas graças da
diretora que a detestava, tem atitudes que refletem um temperamento sensível às
necessidades da garotada a quem ensina.
A Havana do filme está longe de imagens pitorescas que o
cinema divulgou anos a fio, do folclórico “Guys and Dolls” onde Marlon Brando
chegava a cantar e aquele propagandístico “Yo Soy Cuba” de Mikhail Kalatazov.
Um bom filme. Milagre cegar à uma tela grande local.
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