sexta-feira, 12 de agosto de 2016

Milagre em Milão

                “Milagre em Milão”é uma fabula que Vittorio De Sica dirigiu como a dizer que o neorrealismo italiano não estava isento da fantasia, ou que os desafortunados por uma guerra ainda podiam viver num recanto onde a fachada de favela abrigaria os sonhos burgueses.
                A historia veio de Cezare Zavattini o autor de “Ladrões de Bicicleta” o primeiro êxito internacional do De Sica diretor. Totó, o principal personagem, nascia num repolho, era portanto “imaculado e cheio de graça” como um santo. A idosa Lollota(Emma Gramatica) o criava até que as forças pudessem. Morta, Totó passa para um orfanato. Sai de lá ainda puro, dando “bom dia’ a quem passa. E por ter seus objetos roubados acaba numa favela. Ali acende e esperança, e ensina a cantar um hino de louvor a isso.Quando o espirito da avó aparece, dando-lhe uma pombinha que realiza desejos, os favelados materializam seus sonhos e revelam orgulho(há uma favelada que pede à pombinha um candelabro e no seu barraco ele nem entra).
                A magica de Totó vai até que os pobres sejam presos e consigam fugir voando em vassouras para uma terra onde “bom dia quer mesmo dizer bom dia”.
                É irresistível frear a emoção no que De Sica chamou de “ingênua fantasia”.Francesco Golisano(Totó) e Brunella Bovo (Edvige, a amiguinha da favela) encabeçando um bloco que dança e canta “A nós basta uma cabana para viver e morrer...” Fazem parte de um poema que não se esquece com o passar dos anos.Digo por mim que nunca esqueci este filme. Gosto muito dele, tenho-o entre os meus preferidos, desses que vejo muitas vezes.
                Certo, o neorrealismo pariu um conto de fadas. Não há príncipe encantado nem beijo final de mocinho com mocinha. Curiosamente os protagonistas saem do planeta. Não em nave espacial mas no veiculo de Harry Potter.

                E lembro para terminar de uma sequencia em que um favelado não se deixa contaminar com a felicidade de Totó “il buono” e quer se jogar no trilho do trem. Totó o acode e pede que ele diga: “A vida é bela, tralalala”. Desajeitado ele repete.  Zavattini pinta a miséria da cor da esperança e o filme não precisa do technicolor para dizer isso. Obra prima.

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