“Milagre
em Milão”é uma fabula que Vittorio De Sica dirigiu como a dizer que o neorrealismo
italiano não estava isento da fantasia, ou que os desafortunados por uma guerra
ainda podiam viver num recanto onde a fachada de favela abrigaria os sonhos
burgueses.
A
historia veio de Cezare Zavattini o autor de “Ladrões de Bicicleta” o primeiro êxito
internacional do De Sica diretor. Totó, o principal personagem, nascia num
repolho, era portanto “imaculado e cheio de graça” como um santo. A idosa Lollota(Emma
Gramatica) o criava até que as forças pudessem. Morta, Totó passa para um
orfanato. Sai de lá ainda puro, dando “bom dia’ a quem passa. E por ter seus
objetos roubados acaba numa favela. Ali acende e esperança, e ensina a cantar
um hino de louvor a isso.Quando o espirito da avó aparece, dando-lhe uma
pombinha que realiza desejos, os favelados materializam seus sonhos e revelam
orgulho(há uma favelada que pede à pombinha um candelabro e no seu barraco ele
nem entra).
A magica
de Totó vai até que os pobres sejam presos e consigam fugir voando em vassouras
para uma terra onde “bom dia quer mesmo dizer bom dia”.
É irresistível
frear a emoção no que De Sica chamou de “ingênua fantasia”.Francesco
Golisano(Totó) e Brunella Bovo (Edvige, a amiguinha da favela) encabeçando um
bloco que dança e canta “A nós basta uma cabana para viver e morrer...” Fazem
parte de um poema que não se esquece com o passar dos anos.Digo por mim que
nunca esqueci este filme. Gosto muito dele, tenho-o entre os meus preferidos,
desses que vejo muitas vezes.
Certo,
o neorrealismo pariu um conto de fadas. Não há príncipe encantado nem beijo
final de mocinho com mocinha. Curiosamente os protagonistas saem do planeta. Não
em nave espacial mas no veiculo de Harry Potter.
E
lembro para terminar de uma sequencia em que um favelado não se deixa
contaminar com a felicidade de Totó “il buono” e quer se jogar no trilho do
trem. Totó o acode e pede que ele diga: “A vida é bela, tralalala”. Desajeitado
ele repete. Zavattini pinta a miséria da
cor da esperança e o filme não precisa do technicolor para dizer isso. Obra
prima.
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