domingo, 26 de março de 2017

Fragmentado

A ultima personalidade do tipo criado por M. Night Shyamalan para seu filme “Split”(Fragmentado) chama-se Fera. Encontraria a sua Bela na jovem Casey  que ele sequestra juntamente com duas colegas dela. Não seria o “príncipe encantado” de Mme Leprince de Beaumont, como a moça não seria a jovem cândida que pedia ao pai uma rosa. Mas seria o desencadeador de um processo que tenta se amparar na psicologia, envereda pelo misticismo e acaba sendo um fecho de charada que nem sempre funciona a quem se dispõe a decifrar.
                Basicamente o argumento do próprio diretor (assim como o roteiro) enfoca um psicopata com múltiplas personalidades produto de um trauma na infância. A vitima preferida, digamos assim, também é uma pessoa violentada no passado. A historia mistura a trama de muitos filmes sobre sequestradas (os) com alguns casos clínicos de multipersonalidade a maneira do que se viu no cinema em “As 3 Mascaras de Eva”(Three Faces of Eve). Neste segundo plano entra absurdos como uma psiquiatra que não mede o perigo que cerca o relacionamento com um cliente difícil e como ela acha que pode domar sua ferocidade numa ação tardia (um bilhete em desespero quando cita como formula de apaziguar a personalidade violenta chamando-a pelo nome de batismo).  Isto sem falar na pouca profundidade de se medir o caráter de Casey, a mocinha mais evidente do trio prisioneiro(alguns flashbacks tentam dizer quem é quem e como a Bela enfrentará a sua Fera).
                O filme sempre é curioso, sempre mantém a atenção, mas se for analisado nas diversas formas que convida à sua leitura, inclusive a médica, é desastroso. Mas a verdade é que o objetivo não é discutir psiquiatria nem ir ás ultimas consequências de um aproveitamento metafórico de uma fabula. É mesmo um exercício de estilo mui caro ao diretor, um cineasta que ama o cinema instigante, cutucando ideias, sem necessidade de explicar como as coisas se portam em suas origens.

                Shyamalan pode não ter feito mais filmes do nível de seus dois primeiros (“O Sexto Sentido” e “Corpo Fechado”), mas não deixa de filmar enredos fantasiosos ou estranhos à produção comercial padrão. No caso deste novo trabalho louva-se em especial o trabalho do ator James McAvoy, É um grande esforço suas expressões corporais ilustrando as diversas personalidades que se lhe atribui. E deve se ressaltar um final que pode parecer enigmático. Muita gente saiu do cinema contando epílogos diferentes. Se não é um gol do autor é um tiro na trave. 

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