Neruda,o filme, apresenta em primeira instancia a perseguição
do poeta Pablo Neruda(Nobel de Literatura em 1971) pelo investigador Oscar
Peluchonneau,uma espécie de Javert atrás de Jean Valjean como pintou Victor
Hugo no seu “Les Miserables”.
Na Historia, com H maiúsculo, o Partido Comunista chileno e
seus filiados foram perseguidos pelo governo de González Videla dentro da conhecida
por Ley
Maldita, apoiada na perda de direitos políticos, prisões e
torturas como de praxe nos regimes ditatoriais (aconteceu no Chile e mais tarde
em muitos países latino-americanos inclusive o Brasil).
Neruda
(interpretado por Luis Gnecco) é,
no roteiro de Guillermo Calderon, um boêmio em certas horas, um politico
comunista que chegou a ter cadeira no parlamento, e um tipo burguês apesar do apego
idealista que mesmo assim tem capacidade física de se embrenhar no mato(é o
termo)para fugir dos inimigos. Nada, a exceção do tipo físico, ao que se viu na
pele do ator Pilippe Noiret em “O Carteiro e o Poeta”. E quem conhece a
verdadeira biografia de Neruda acha uma aberração.
O cineasta Pablo Larrain vem
se especializando em cinema politico. Pelo menos dois de seus trabalhos
mereceram aplausos: “No”, sobre o plebiscito que pediu a saída de Pinochet do governo
chileno, e “O Clube”, enfoque da pedofilia focalizando padres que atacaram crianças,
reunidos em um retiro onde um elemento do alto clero tenta mudar suas atitudes.
Abordagem muito mais densa do que no premiado “Spotlight”. Em “Neuruda” o
cineasta segue a linha politica, mas no prisma histórico, tentando dimensionar
um poeta internacionalmente famoso como pessoa física no cenário de terror que
seguiu a sua própria atuação no governo de seu país.
A meu ver o que faltou na
dosagem foi o roteiro. Não se sabe muito do Neruda proscrito do governo e de
sua face “domestica”. O enfoque maior é a perseguição pelo policial que se
mostra obsessivo (bom trabalho de Gael
Garcia Bernal). Tanto que a câmera se detém no cadáver do que seria o vilão, e
mesmo deixar que se veja Neruda adiante do morto com um ar de piedade (e seria
este o proposito ?).
Larrain deve prosseguir na
sua obra dirigida aos dramas históricos de sua terra. A gente que pouco vê do
cinema chileno tende a aplaudir. Mesmo que em casos como “Neruda” deixe alguns
espaços vazios.
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