quinta-feira, 14 de julho de 2016

O Boulevard do Crime

                “O Boulevard do Crime”(Les Enfants du Paradis/1945) é o filme histórico por excelência. Não só pelo tema, a Paris do século XVIII com tipos que frequentavam o teatro nas galerias, o “paraíso” como aqui se chamava o espaço no nosso Teatro da Paz, mas por diversos outros fatores que englobam até a exibição em Belém.
                O filme escrito pelo poeta Jacques Prévert e dirigido por Marcel Carné começou a ser rodado durante a ocupação alemã. Muitos técnicos eram judeus e trabalharam às escondidas. Lançado depois da guerra, foi um  grande sucesso e um exemplo de superprodução. Com perto de 3 horas de projeção ganhou as telas mundiais e chegou até nós lançado no cine Olímpia em meio de semana (não chegou ao patamar domingueiro que era destinado aos melodramas, aventuras capa-e-espada e musicais americanos com raríssimas exceções). Sobre este lançamento eu me lembro de um detalhe: um espectador acostumado com a métrica de Hollywood estranhou o longa francês e lançou uma pedra na tela. A marca ficou durante um certo tempo. Eu que ia muito ao Olímpia encontrava aquele incomodo botão negro no meio do espaço branco e lembrava do que me contaram sobre  o incidente(não sei se prenderam o autor da façanha).
                E “O Boulevard...” gerou uma das melhores polemicas de críticos locais. No jornal “ A Província do Pará” escreveram Benedito Nunes e Orlando Costa em resposta a Cauby Cruz que assinava como Adelina Lisboa Coimbra. Na defesa estavam os dois primeiros e no ataque o ultimo. Foi uma coleção de ironias mordazes e enfim um aplauso ao bom cinema que desde aquela época era difícil de chegar até aqui. E por sinal que “O Boulevard..” só ganhou 2 dias no Olímpia, sem escorrer depois para as outras salas do circuito exibidor.
                Entre pedra e palavras admirei o trabalho de Marcel Carné que no ano 2000 foi considerado “o filme do século”pelos críticos franceses. Só não atraiu o pessoal da chamada “nouvelle vague”, que detestava o artesanato de Carné colocando o cineasta no rol dos “velhos malditos” como Jean Dellanoy e até mesmo René Clement.
                Rever o filme agora, no mesmo Olimpia(com “y” atualmente) é um brinde ao passado. Como se estivesse na feira ao lado do teatro o mimico Baptiste (o grande Jean Louis Barrault) e defendendo o lado romântico a talentosa (e nada bonita)Garance ( Arletty). Foi o melhor de Barrault no cinema, e eu vi “Le Cocu Magnifique”(aqui “O Magnifico “sem o “Corno”) onde ele deu show de expressão corporal. Nada porem a comparar com o sofrido Baptiste, a rivalizar com Pierre Brasseur (Lamaitre) no clássico de Carné & Prévert.

                A projeção promete ser de altíssima qualidade (de um original bluray) e a copia cobre as quase 3 horas da sessão. Alons nous...

Um comentário:

  1. Excelente filme, me lembrou muito a musica João que amava terza..., devido as várias paixões dos persoangens uns pelos outros, embora longo vale a pena ver o desencolvimentos dos persoangens em suas aventuras e desventuras profissionais ou amorosas detalhe o final foge daquele felizes para sempre.

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