quarta-feira, 18 de abril de 2018

Um Lugar Silencioso


Russel Rouse, escritor de “Confidencias à Meia Noite”(Pillow Talk) a melhor comédia da dupla Rock Huson & Doris Day, e diretor de “O Poço da Angustia”, foi quem dirigiu “O Ladrão Silencioso”(The Thief) em 1952, um filme “mudo” com o artificio servindo à uma curiosa trama de espionagem (Ray Milland chegou a ser candidato ao Oscar por seu papel). Essa ideia de usar o silencio como traço de argumento serve agora a este “Um Lugar Silencioso”(A Quiet Place) que faz sucesso nos cinemas comerciais e também na área da critica.
                O roteiro de Bryan Woods , Scott Beck e do diretor-ator John Krsinski ,autores da historia original, cede a estereótipos hollywoodianos de filme de terror. Há monstros, acordes na trilha sonora com objetivo de assustar o espectador, e há o enaltecimento da família, o que mais possa figurar como “happy end”.
                Mas há uma direção segura, atores impecáveis (até o diretor  Krasinski que é o principal ator), e uma apreciável cinegrafia, com aproveitamento das cores e sombras seguindo uma cenografia que faz ver o ambiente claustrofóbico em contraste com o exterior onde cascatas emolduram a paisagem.
                O filme também impressiona pela alusão metafórica de liberdade, usando o som como vilão(os seres malignos atacam quando ouvem ruídos).E chega a aludir que o próprio som, numa postura decibel, pode destruir quem se alimenta de uma faixa sonora audível (seria como usar o ultrassom na luta contra o mal, o que implica numa alusão ao melhor meio de vida como quem diz que a poluição sonora se alia a outras para acabar com a raça humana).
                Os autores da trama poderiam ser mais audaciosos aludindo às formas apocalípticas que perseguem os viventes no mundo moderno. E também poderiam enfatizar o fato de um bebê desafiar o silencio com o natural choro ao nascer (sem falar num parto em que a parturiente é obrigada a sofrer as dores sem fazer barulho).
                “Um Lugar Silencioso”vale uma gotosa anedota contra a dublagem dos filmes. O irritante som que deturpa a trilha original “mata” o valor artístico do produto. Por sinal que este é um raro exemplo de produção que sobrevive à dublagem porque é “quase” muda. E mais: quem protesta grita. Realmente as pessoas devem gritar pela sua liberdade de expressão. Não sei se a turma que bolou a trama pensou nisso. Mas deixou que assim se pense.
                Um programa interessante nas telas comerciais da cidade. Não acho que seja um grande filme, mas sai da mesmice do gênero terror.

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