Russel Rouse, escritor de “Confidencias à Meia Noite”(Pillow
Talk) a melhor comédia da dupla Rock Huson & Doris Day, e diretor de “O
Poço da Angustia”, foi quem dirigiu “O Ladrão Silencioso”(The Thief) em 1952,
um filme “mudo” com o artificio servindo à uma curiosa trama de espionagem (Ray
Milland chegou a ser candidato ao Oscar por seu papel). Essa ideia de usar o
silencio como traço de argumento serve agora a este “Um Lugar Silencioso”(A
Quiet Place) que faz sucesso nos cinemas comerciais e também na área da
critica.
O
roteiro de Bryan Woods , Scott Beck e do diretor-ator John Krsinski ,autores da
historia original, cede a estereótipos hollywoodianos de filme de terror. Há
monstros, acordes na trilha sonora com objetivo de assustar o espectador, e há o
enaltecimento da família, o que mais possa figurar como “happy end”.
Mas há uma
direção segura, atores impecáveis (até o diretor Krasinski que é o principal ator), e uma apreciável
cinegrafia, com aproveitamento das cores e sombras seguindo uma cenografia que
faz ver o ambiente claustrofóbico em contraste com o exterior onde cascatas
emolduram a paisagem.
O filme
também impressiona pela alusão metafórica de liberdade, usando o som como
vilão(os seres malignos atacam quando ouvem ruídos).E chega a aludir que o próprio
som, numa postura decibel, pode destruir quem se alimenta de uma faixa sonora audível
(seria como usar o ultrassom na luta contra o mal, o que implica numa alusão ao
melhor meio de vida como quem diz que a poluição sonora se alia a outras para
acabar com a raça humana).
Os
autores da trama poderiam ser mais audaciosos aludindo às formas apocalípticas que
perseguem os viventes no mundo moderno. E também poderiam enfatizar o fato de
um bebê desafiar o silencio com o natural choro ao nascer (sem falar num parto
em que a parturiente é obrigada a sofrer as dores sem fazer barulho).
“Um
Lugar Silencioso”vale uma gotosa anedota contra a dublagem dos filmes. O
irritante som que deturpa a trilha original “mata” o valor artístico do
produto. Por sinal que este é um raro exemplo de produção que sobrevive à
dublagem porque é “quase” muda. E mais: quem protesta grita. Realmente as
pessoas devem gritar pela sua liberdade de expressão. Não sei se a turma que
bolou a trama pensou nisso. Mas deixou que assim se pense.
Um
programa interessante nas telas comerciais da cidade. Não acho que seja um
grande filme, mas sai da mesmice do gênero terror.
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