Na
Maquina do Tempo
Cinema é mesmo a arte que desafia o tempo, a técnica que
imortaliza o movimento e faz com que se veja e reveja interpretes hoje mortos
quando vivos, saudáveis e muito falantes. E esta vivacidade projetada comunica
ao espectador a ideia de um tempo passado. É como se quem vê esteja em um
período paralelo, muitas vezes associado à primeira visão de um filme.
“Aviso
aos Navegantes”(1950) foi lançado por aqui no cinema Olímpia exatamente há 65
anos. Eu havia descoberto o fascínio da chanchada vendo “Carnaval no
Fogo”(1949) no Cine Ipanema, no Rio, em janeiro de 1950. Quando se anunciou a
comédia carnavalesca seguinte, com os mesmos Oscarito e Grande Otelo, fui para
a fila, formada adiante da porta do cinema, em dia de estreia. E na época a
juventude só falou nisso. Na minha turma de colégio o forte era imitar Oscarito
e algumas piadas ainda hoje procedem
como a sopa que ele e Grande Otelo fazem para a rumbeira da orquestra de Ruy
Rey(Cuquita Carbalo) quando Otelo depois de botar até gasolina na formula diz
que é bom botar nabo. Oscarito responde: “-Nabo não, nabo é muito forte”.
A
formula do gênero segue o que se viu em “Carnaval no Fogo”. E o diretor Watson
Macedo engrossa o caldo a partir da apresentação do tipo vivido por Oscarito,
no palco de um teatro em carrinho de bebê cantando a marchinha que ele gravou
sobre querer mamar. Poucos anos depois eu vi no Teatro da Paz o Oscarito
refazendo a sequencia do filme e cheguei a cumprimenta-lo no camarim com o
amigo Agostinho Barros(por sinal um ótimo imitador do comediante da Atlântida,
empresa de Severiano Ribeiro Jr que produzia os chamados “filmes de carnaval”(depois
é que a critica apelidou de chanchada como termo pejorativo).
“Aviso
aos Navegantes” foi a mais rentável comédia do gênero. Marcou um tempo onde a
ingenuidade mascarava os dramas do cotidiano. Revê-la é reconhecer isso.
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