O polonês Stanislaw Lem(1921-2006) escreveu sobre um
planeta aquático que materializava os pensamentos das pessoas que entrassem em
sua orbita. Andrei Tarkoviski(1932-1986) fez um filme com roteiro de Fridrikh
Gorenshteyn(1932-2002) e dele próprio baseado nesse engenhoso texto. É raro um
filme de ficção cientifica se embrenhar num processo filosófico denso como
este. Lem não gostou muito. Trakovskli viu mais o homem do que a astronomia. E
se o livro for comparado à versão que dele fez o americano Steven Soderbegh em
2002 pode-se avaliar a distancia.
No belíssimo trabalho de Tarkoviski um astronauta que
orbita o planeta Solaris, seguindo colegas que anteriormente estavam na estação
espacial, passa a ver e sentir a mulher dele que havia (tragicamente) morrido. Ela
revive, morre, revive a cada passo de uma jornada que o astronauta vai
conscientizando como o melhor de sua vida. E este melhor ganha um epilogo que
expõe a opção do personagem por uma ilha que passa a criar e morar no mundo de
água, materializando figuras de sua infância, percebidas pelo espectador que
encontra a diferença da realidade no fato de não existir uma brisa a balouçar as
matas assim como um lago próximo. Não
importa. Ao abraçar o pai que surge de dentro da casa de infância o filme sintetiza
toda a força da memória que revive e se eterniza.
Um dos mais belos que já se viu em cinema. Uma
superprodução da Mosfilm que por não conter ranço de propaganda da URSS deu
inicio ao ostracismo do diretor(enfim saído do “paraiso comunista” em busca de
seu próprio Solaris, ou Shangri-la, ou Inisfree, ou Utopia, como se queira
chamar o mundo interior.
Há quem diga que “Solaris” é o 2001 russo. Procede.
Gosto mais do trabalho de Kubrick mas tenho o de Tarkovski entre os meus
preferidos em qualquer época.
E atenção: o filme estará no Olympia no final deste
janeiro 2016. Aproveite.
Nenhum comentário:
Postar um comentário