Quando
eu filmei “Brinquedo Perdido”,em 1962, fui para o alto do edifício Manoel Pinto
da Silva tirar uma panorâmica da cidade. Era o ponto mais alto da capital
paraense. Antes, o teto era o Edifício Berne na 15 de Agosto (que viraria Presidente
Vargas). Dizia-se que o candidato a suicida que se jogasse dali não morreria.
Bem, eu morava na S. Jeronimo, que era avenida, mas nascera como Estrada da S. Jeronimo
(a paralela era Estrada de Nazaré).
Belém
de antes era pacata. Dois crimes de morte ganharam manchetes de jornais: nos
anos 1920 o da senhora Tejada por Red Lucier, enfim preso por mais de 20 anos e
eu o conheci quando médico do presidio, e nos 1950 o do sr.Pires Franco pelo
sobrinho dele, Jaime Leite. A área policial limitava-se aos “ladrões de
quaradouro” ou “ladrões de galinha”. Em meio aos bondes circulava um povo
simples. Via de acesso era por agua ou por aviões com hélices, a maioria
composta por bimotores do tipo DC3 ficando os Constelation da Panair do Brasil
para a classe mais abastada (Belém-Rio consumia 6 horas de viagem direta).
Quando
S.Paulo fez 400 anos, em 1954, eu vi no cinema Emilinha Borba cantando um samba
que o carioca dedicava ao estado vizinho. Foi em “O Petróleo é Nosso” de Watson
Macedo. Hoje Belém chega a isso. Não ouvi nenhum samba de parabéns. Também
deixei de ser caçador de sons. Mas reparo e conto o numero de edifícios que
desafiam o chão roubado das aguas (na Doca Souza Franco, por exemplo, vi barcos
de grande porte atracados no que se chamava de Igarapé das Almas).Eu próprio deixei
casa para me entrincheiras no que chamo de poleiro. Culpa da falta de
segurança. Com via de acesso por terra desde a criação da estrada Belém-Brasília,
a população esticou . Veio de tudo: mantimentos e migrantes pensando em vida
nova na Amazônia promissora.
Canto
no intimo a minha terra natal neste momento de 400 janeiros. E sempre desejo à
ela o bem que se quer ao que se ama.
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