segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Belém 400


                Quando eu filmei “Brinquedo Perdido”,em 1962, fui para o alto do edifício Manoel Pinto da Silva tirar uma panorâmica da cidade. Era o ponto mais alto da capital paraense. Antes, o teto era o Edifício Berne na 15 de Agosto (que viraria Presidente Vargas). Dizia-se que o candidato a suicida que se jogasse dali não morreria. Bem, eu morava na S. Jeronimo, que era avenida, mas nascera como Estrada da S. Jeronimo (a paralela era Estrada de Nazaré).

                Belém de antes era pacata. Dois crimes de morte ganharam manchetes de jornais: nos anos 1920 o da senhora Tejada por Red Lucier, enfim preso por mais de 20 anos e eu o conheci quando médico do presidio, e nos 1950 o do sr.Pires Franco pelo sobrinho dele, Jaime Leite. A área policial limitava-se aos “ladrões de quaradouro” ou “ladrões de galinha”. Em meio aos bondes circulava um povo simples. Via de acesso era por agua ou por aviões com hélices, a maioria composta por bimotores do tipo DC3 ficando os Constelation da Panair do Brasil para a classe mais abastada (Belém-Rio consumia 6 horas de viagem direta).

                Quando S.Paulo fez 400 anos, em 1954, eu vi no cinema Emilinha Borba cantando um samba que o carioca dedicava ao estado vizinho. Foi em “O Petróleo é Nosso” de Watson Macedo. Hoje Belém chega a isso. Não ouvi nenhum samba de parabéns. Também deixei de ser caçador de sons. Mas reparo e conto o numero de edifícios que desafiam o chão roubado das aguas (na Doca Souza Franco, por exemplo, vi barcos de grande porte atracados no que se chamava de Igarapé das Almas).Eu próprio deixei casa para me entrincheiras no que chamo de poleiro. Culpa da falta de segurança. Com via de acesso por terra desde a criação da estrada Belém-Brasília, a população esticou . Veio de tudo: mantimentos e migrantes pensando em vida nova na Amazônia promissora.

                Canto no intimo a minha terra natal neste momento de 400 janeiros. E sempre desejo à ela o bem que se quer ao que se ama.  

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