terça-feira, 29 de março de 2016

Aniversário do Olympia

Nasci e passei adolescência perto do Olympia. Por isso frequentava muito o cinema do então Largo da Pólvora. Via de tudo que a censura etária permitia. Por isso pedi um programa especial do aniversário numero 104 dessa relíquia histórica paraense. Seria com um filme que representasse cada fase das exibições. Por falta de material começaria com o primeiro sonoro, lançado no dia 30 de novembro de 1930: “Alvorada do Amor”(The Love Parade)de Ernst Lubitsch com Maurice Chevalier e Jeanette McDonald. Começavam as operetas e esta não era bem enquadrada no gênero apesar de se basear numa peça teatral chamada “O Príncipe Consorte”de Leon Xanrof e Jules Chancel. Interessante como as mulheres da época aplaudiam o machismo do texto. O conquistador que vivia em Paris voltava à sua terra natal(um país fictício) e conquistava a rainha ainda solteira (Jeanette aos 25 anos). Como a tradição dizia que era esta autoridade quem mandaria no príncipe consorte, ele se rebelava. E ela, apaixonada, abdicava de seus poderes dando a ele a voz de mando. O filme foi o primeiro sonoro do diretor alemão e um dos primeiros da Paramount nessa técnica.
Não sei se “Alvorada..” mas a estreia do cinema falado seria no cinema Moderno, no Largo de Nazaré. O problema é que a sessão do lançamento desta novidade seria no dia em que começou a Revolução de 30. Foi interrompida.
“King Kong” de 1933 estreou no Olympia mas eu só vi na década seguinte no Moderno, distribuído pela RKO. Deu até um bloco carnavalesco com um gigantesco macaco de pano desfilando pelas ruas.
“O Magico de Oz” já me pegou como espectador. Devia ter cinco anos. Filme feito em 1939, foi contemporâneo do megassucesso “...E o Vento Levou”(Gone With the Wind) que eu não vi na estreia porque era “improprio até 14 anos”.
Nos anos 40 os melodramas atraiam multidões. E os piores eram os mexicanos. Eu não os via por conta da idade mas detestei saber que “Pecadora” ( o cerro chefe do que se via como “cine boleros” pois cada filme lançava musicas desse ritmo)ficou mais de duas semanas em cartaz, E já naquela época tinha uma tendência de critico, irado por este abacaxi ganhar publico de “Hamlet” de Laurence Olivier, o Oscar do ano.
Nos 50 ainda os melodramas. Surgia a série da Universal dirigida por Douglas Sirk com o canastrão Rock Hudson, As meninas adoravam o galã sem saber de sua preferencia sexual.Eu perdi de entrevista-lo quando passou rapidamente por Belém a caminho do Rio.Não lamento. Do grupo de melôs,anos depois “Imitação da Vida”, refilmagem de uma produção de Joseph M. Stahl com Claudette Colbert, surgiram espécimes espanhóis com Sara Montiel (“La Violetera”na frente), Mas o período foi muito mais das comedias carnavalescas da Atlântida, firma do atual dono da casa (Luís Severiano Ribeiro Jr). Para ver esses filmes era preciso enfrentar fila pelo menos uma hora antes de começar a sessão.
Chegando os 60,a concorrência com o jovem Cine Palácio, de empresário local, fez com que o dono do Olympia colocasse ar condicionado e poltronas estofadas na sala. Vingando-se de Judah Levi que comandava o Palácio, pegoupara inaugurar os melhoramentos o filme que seria o de estréia do cinema concorrente: “A Volta ao Mundo em 80 Dias”(Around the World) da United Artists. E eu já escrevendo sobre cinema, apadrinhei no período a sessão de sábado de manhã camada “Cinema de Arte”. Começou com “Viridiana” de Luis Buñuel, inédita por aqui mesmo com a Palma de Ouro em Cannes.  Foram bons momentos, com os filmes densos chegando também ao cineclube que atuava em varias frentes.
Na fase militar com uma censura hilária, “O Homem de Kiev” mereceu palmas quando uma personagem diz mais ou menos assim: “havendo opressão do Estado às ideias do povo o menor dos males é derrubar o Estado”.
No fim da censura o Olymopia exibiu o filme que mais tempo ficou em cartaz(9 semanas): “O Império dos Sentidos “de Nagisa Oshima. O publico saciou a liberdade vendo sexo explicito. E o curioso é que os críticos locais elegeram o filme como o melhor do ano.
No apagar das luzes, nos 80, “Titanic” mexeu com a estatística. Fez filas enormes, ficou um mês em cartaz, ganhou elogios de quase todos os que viram.
E na raia nacional lembro ainda de dois sucessos: “O Cangaceiro” em 1953 e “O Pagador de Promessas “em 1962, Os dois ditaram moda. O primeiro chegou a inspirar carro alegórico no carnaval.

Bem, se fosse possível revisar a historia dom Olympia com seus cartazes havia muito a (re)ver. Infelizmente não é possível agora.Talvez um dia, quando ele alcance ainda mais idade .

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