Nasci e passei adolescência perto do Olympia. Por isso
frequentava muito o cinema do então Largo da Pólvora. Via de tudo que a censura
etária permitia. Por isso pedi um programa especial do aniversário numero 104
dessa relíquia histórica paraense. Seria com um filme que representasse cada
fase das exibições. Por falta de material começaria com o primeiro sonoro,
lançado no dia 30 de novembro de 1930: “Alvorada do Amor”(The Love Parade)de
Ernst Lubitsch com Maurice Chevalier e Jeanette McDonald. Começavam as operetas
e esta não era bem enquadrada no gênero apesar de se basear numa peça teatral
chamada “O Príncipe Consorte”de Leon Xanrof e Jules Chancel. Interessante como
as mulheres da época aplaudiam o machismo do texto. O conquistador que vivia em
Paris voltava à sua terra natal(um país fictício) e conquistava a rainha ainda
solteira (Jeanette aos 25 anos). Como a tradição dizia que era esta autoridade
quem mandaria no príncipe consorte, ele se rebelava. E ela, apaixonada, abdicava
de seus poderes dando a ele a voz de mando. O filme foi o primeiro sonoro do
diretor alemão e um dos primeiros da Paramount nessa técnica.
Não sei se “Alvorada..” mas a estreia do cinema falado seria
no cinema Moderno, no Largo de Nazaré. O problema é que a sessão do lançamento
desta novidade seria no dia em que começou a Revolução de 30. Foi interrompida.
“King Kong” de 1933 estreou no Olympia mas eu só vi na década
seguinte no Moderno, distribuído pela RKO. Deu até um bloco carnavalesco com um
gigantesco macaco de pano desfilando pelas ruas.
“O Magico de Oz” já me pegou como espectador. Devia ter
cinco anos. Filme feito em 1939, foi contemporâneo do megassucesso “...E o
Vento Levou”(Gone With the Wind) que eu não vi na estreia porque era “improprio
até 14 anos”.
Nos anos 40 os melodramas atraiam multidões. E os piores
eram os mexicanos. Eu não os via por conta da idade mas detestei saber que “Pecadora”
( o cerro chefe do que se via como “cine boleros” pois cada filme lançava
musicas desse ritmo)ficou mais de duas semanas em cartaz, E já naquela época tinha
uma tendência de critico, irado por este abacaxi ganhar publico de “Hamlet” de
Laurence Olivier, o Oscar do ano.
Nos 50 ainda os melodramas. Surgia a série da Universal
dirigida por Douglas Sirk com o canastrão Rock Hudson, As meninas adoravam o
galã sem saber de sua preferencia sexual.Eu perdi de entrevista-lo quando
passou rapidamente por Belém a caminho do Rio.Não lamento. Do grupo de melôs,anos
depois “Imitação da Vida”, refilmagem de uma produção de Joseph M. Stahl com
Claudette Colbert, surgiram espécimes espanhóis com Sara Montiel (“La Violetera”na
frente), Mas o período foi muito mais das comedias carnavalescas da Atlântida,
firma do atual dono da casa (Luís Severiano Ribeiro Jr). Para ver esses filmes
era preciso enfrentar fila pelo menos uma hora antes de começar a sessão.
Chegando os 60,a concorrência com o jovem Cine Palácio, de
empresário local, fez com que o dono do Olympia colocasse ar condicionado e
poltronas estofadas na sala. Vingando-se de Judah Levi que comandava o Palácio,
pegoupara inaugurar os melhoramentos o filme que seria o de estréia do cinema concorrente:
“A Volta ao Mundo em 80 Dias”(Around the World) da United Artists. E eu já escrevendo
sobre cinema, apadrinhei no período a sessão de sábado de manhã camada “Cinema
de Arte”. Começou com “Viridiana” de Luis Buñuel, inédita por aqui mesmo com a
Palma de Ouro em Cannes. Foram bons
momentos, com os filmes densos chegando também ao cineclube que atuava em
varias frentes.
Na fase militar com uma censura hilária, “O Homem de Kiev”
mereceu palmas quando uma personagem diz mais ou menos assim: “havendo opressão
do Estado às ideias do povo o menor dos males é derrubar o Estado”.
No fim da censura o Olymopia exibiu o filme que mais tempo
ficou em cartaz(9 semanas): “O Império dos Sentidos “de Nagisa Oshima. O
publico saciou a liberdade vendo sexo explicito. E o curioso é que os críticos locais
elegeram o filme como o melhor do ano.
No apagar das luzes, nos 80, “Titanic” mexeu com a estatística.
Fez filas enormes, ficou um mês em cartaz, ganhou elogios de quase todos os que
viram.
E na raia nacional lembro ainda de dois sucessos: “O Cangaceiro”
em 1953 e “O Pagador de Promessas “em 1962, Os dois ditaram moda. O primeiro
chegou a inspirar carro alegórico no carnaval.
Bem, se fosse possível revisar a historia dom Olympia com
seus cartazes havia muito a (re)ver. Infelizmente não é possível agora.Talvez
um dia, quando ele alcance ainda mais idade .
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