domingo, 24 de abril de 2016

Olympia 104

                Não esqueci a data de aniversario do cinema Olympia por ser a mesma de minha mãe. Ela tinha 12 anos quando a elite de Belém, resquício de “gomme époque”(a nossa belle époque) comemorou a chegada do cinematografo ao seu domínio(antes era um espetáculo popular restrito aos barracões de subúrbio).
                Eu frequentava muito o  Olímpia(já com i”)pois morava perto dele. Quando comecei a ir a cinema sozinho, não perdia matinais dos domingos e as vesperais de 15 h em dias da semana quando as estreias convidavam minha curiosidade. Nessa época a sala já havia perdido o seu titulo de nobreza. Chegou a um tom miserável com poltronas da madeira sem estofo, ventiladores laterais (e dois frontais) e atrações anunciadas num espelho da sala de espera.
                Mamãe não ia ao Olímpia porque achava quem tinha de se preparar com mais luxo do que ir ao Theatro da Paz. Preferia cinema de bairro,onde os filmes chegavam depois de algum tempo no espaço rico do Largo da Pólvora. Mesmo depois da queda, sabendo que cinema em Belém deixava de ser requinte da turma que vestia longos e fraques, preferia os modestos Independência, Guarani, Popular, cinemas sem garbo(exceto quando exibiam filmes com a Greta, que em si era Garbo) mas com boa assistência técnica.
                Mas se a aniversariante do dia se foi há 35anos, o Olympia,de volta ao “y” aí está, apadrinhado pela Prefeitura da cidade com o nome de “Espaço Cultural”. Deve isso ao próprio envelhecimento. Cinemas de sua estreia já se foram. Orgulha a nos, belenenses, uma tradição numa área que luta contra uma constante perseguição pelo modernismo técnico.

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                Hoje eu revejo o que vi na 4ª,fila do cinema onde o espectador entra no salão por debaixo da tela,os filmes que me deleitaram. Adolescente admirava as acrobacias de Errol Flynn, as ficções cientificas de George Pal ,as piadas de Oscarito, e suportava até mesmo as operetas com  Jeanette McDonald e Nelson Eddy. Via de tudo, até os dramalhões mexicanos que popularizavam boleros. Nesse coquetel achei doces como “La Strada” de Fellini. E como Gelsomina penso no valor de uma pequena pedra no mundo. Um tiquinho de lembrança indica o tempo de uma sala que, benza Deus, ainda vive. 

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