Não
esqueci a data de aniversario do cinema Olympia por ser a mesma de minha mãe.
Ela tinha 12 anos quando a elite de Belém, resquício de “gomme époque”(a nossa
belle époque) comemorou a chegada do cinematografo ao seu domínio(antes era um espetáculo
popular restrito aos barracões de subúrbio).
Eu
frequentava muito o Olímpia(já com i”)pois
morava perto dele. Quando comecei a ir a cinema sozinho, não perdia matinais
dos domingos e as vesperais de 15 h em dias da semana quando as estreias convidavam
minha curiosidade. Nessa época a sala já havia perdido o seu titulo de nobreza.
Chegou a um tom miserável com poltronas da madeira sem estofo, ventiladores laterais
(e dois frontais) e atrações anunciadas num espelho da sala de espera.
Mamãe
não ia ao Olímpia porque achava quem tinha de se preparar com mais luxo do que
ir ao Theatro da Paz. Preferia cinema de bairro,onde os filmes chegavam depois
de algum tempo no espaço rico do Largo da Pólvora. Mesmo depois da queda,
sabendo que cinema em Belém deixava de ser requinte da turma que vestia longos
e fraques, preferia os modestos Independência, Guarani, Popular, cinemas sem
garbo(exceto quando exibiam filmes com a Greta, que em si era Garbo) mas com
boa assistência técnica.
Mas se
a aniversariante do dia se foi há 35anos, o Olympia,de volta ao “y” aí está,
apadrinhado pela Prefeitura da cidade com o nome de “Espaço Cultural”. Deve
isso ao próprio envelhecimento. Cinemas de sua estreia já se foram. Orgulha a
nos, belenenses, uma tradição numa área que luta contra uma constante
perseguição pelo modernismo técnico.
.
Hoje eu
revejo o que vi na 4ª,fila do cinema onde o espectador entra no salão por
debaixo da tela,os filmes que me deleitaram. Adolescente admirava as acrobacias
de Errol Flynn, as ficções cientificas de George Pal ,as piadas de Oscarito, e
suportava até mesmo as operetas com Jeanette
McDonald e Nelson Eddy. Via de tudo, até os dramalhões mexicanos que
popularizavam boleros. Nesse coquetel achei doces como “La Strada” de Fellini.
E como Gelsomina penso no valor de uma pequena pedra no mundo. Um tiquinho de
lembrança indica o tempo de uma sala que, benza Deus, ainda vive.
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