Na mostra que marca o 104 ° aniversário do cinema Olympia está o clássico "Alvorada do Amor"primeiro filme sonoro a ser exibido em Belém. Havia escrito antes o texto seguinte:
Quando o cinema começou a falar
imediatamente começou a cantar. A Warner maravilhava-se com Al Jolson cantando
em “The Jazz Singer” e a Paramount buscou em Paris Maurice Chevalier(1888-1972)
para cantar em “Alvorada do Amor”(The Love Parade/1929) versão do musical ’O Príncipe Consorte”(The
Prince Consort”) de Jules
Chancel, Leon Xanrof e dos romancistas Guy Bolton e Ernest Vajda. Para a
direção foi chamado o alemão Ernst Lubitsch(1892-1947) já conhecido de 52
filmes entre curtos e longos sendo 11 americanos(os primeiros foram rodados na
Alemanha).
Aqui em Belém “Alvorada...”
inaugurou o cinema com som, deixando a honra da estreia para o Olympia
precisamente no dia 30 de novembro de 1930. Interessante notar que a técnica chegaria
primeiro ao cinema Moderno, no Largo de Nazaré, mas o programa foi marcado para
o dia em que começou a Revolução de 30 e contam que a sala foi invadida por
militares e alguns espectadores masculinos guinados ao quartel. Por sinal que o
Moderno procurava fazer jus ao nome. No lugar viveu o Chalet, teatro onde
Altino Britto Pontes exibiu um aparelho de projeção. Ficou portanto com o
Olympia a honra de lançar a novidade técnica que empolgou seus frequentadores.
O filme é uma ode ao machismo. O
conde interpretado por Chevalier vive nababescamente em Paris quando é chamado
para a sua terra natal (um país fictício) onde a rainha solitária sente
dificuldades administrativas. Lá chegando ele, um conquistador inveterado,
seduz a monarca e no fim ameaça deixar o reino ( e a amada) se ela não der a
ele franco poder, limitando-se a ser uma “dona de casa”.
Jeanette McDonald(1903-1961)
estreava. Soprano que exibia a voz desde a infância foi a estrela das operetas
seguintes a este “Alvorada..” Fez dupla com o barítono Nelson Eddy(1901-1967)
em filmes do gênero como “Primavera”(o preferido de Jeanette),”Rose Marie” e “Canção
de Amor”. Impressionante como em Belém os fãs eram muitos e lotavam os cinemas
que exibiam esse tipo de filme e com essa atriz.
Mas o conteúdo da peça que gerou
“Alvorada..” hoje deve irar as feministas. Felizmente o chamado “Lubitsch touch”,ou
o estilo do diretor, conseguiu fazer uma comédia divertida e ainda hoje capaz
de provocar risadas em certas sequencias. Chavalier fez muitos filmes em
Hollywood e na França, embora em seu país tivesse sido malvisto por ter cantado
para os nazistas (e ele dizia que foi obrigado a isso para salvar algumas pessoas).
Pena que um de seus bons filmes da ultima fase francesa hoje esteja esquecido:
“O Rei”(Le Roi/1949)de Marc Gilbert Sauvajon.
Prezado Sr., interessante seu relato, no que diz respeito à modernização da técnica nos cinemas em Belém diante do paradoxo - talvez não para a época no Brasil todo - do conteúdo arcaico das relações afetivas no filme projetado. Ainda mais curioso para mim é saber da participação neste meio de salas de exibição de um provável ancestral. Sou bisneto do médico paraense Theodoro Carlos de Britto Pontes, falecido precocemente em 1909 ou 1910, aos 38 anos, que tinha um irmão chamado Altino. Gostaria de saber se houve mais participação deste senhor no meio de exibição de cinemas em Belém. Com a morte de meu bisavô, minha bisavó, que era baiana, veio em busca de seus parentes no Rio de Janeiro e meu avô fez carreira por aqui, não tendo tido mais muito contato com a família. Uma prima, que veio também para cá, mas já adulta, contava-nos às vezes algumas histórias da família. Se não me engano, o tio Altino teria assumido a farmácia do pai, que levava o nome da família.
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